19 de março de 2010







AINDA HÁ VIDA...

E decorre com toda a languidez desse imenso Baixo Alentejo.
De cada vez que se pensa num lugar assim, assoma o lugar-comum "O Tempo Passa Devagar".
Não é que seja mentira, é apenas a única percepção que consegue ter quem vem de um lugar onde o tempo é um bem precioso.
Não aqui.
No Beringelinho, o tesouro é outro.
Chama-se silêncio.
Que pode ser, de sol a pino, o coro de mil aves invisíveis e, à noite, o sibilo de insectos em torno dos candeeiros de iluminação pública e os passos apressados das osgas, gordas, bonacheironas, precipitando-se sobre eles.
No Beringelinho, há quem nos convide a entrar em casa para ver a horta de gigantescas couves galegas e pêssegos de promissora suculência.
Há um bando de andorinhas em desordeiro banquete aéreo.
Há, do largo, vistas imensas sobre os tons pastel desse imenso Celeiro de Portugal, onde arribam, todos os anos, as abetardas, e de onde as cegonhas já não partem.
Há corujas das torres sob telhados centenários.
Há uma Sociedade Recreativa de onde se vê o carro que chega, de muito em muito tempo, e por onde terá de partir, porque este é um ponto final na história dos lugares que, por serem de passagem, mais tarde ou mais cedo se fazem um qualquer lugar sem poesia.
Há um ninho de pintassilgo num plátano de pobre folhagem, mas eleito de entre tantas árvores frondosas, apenas porque Isto é passarada que gosta da nossa companhia!
Há este aroma que anuncia o Verão.
Há a ameaça de trevoada.
Há amor à terra.
Como só amor se pode dar a esta gente!
Que são os portugueses de verdade...
... sem se julgar donos dela!

Texto Nuno Miguel Dias
Fotografias Zito Colaço

Sem comentários: