17 de fevereiro de 2010

Serra da Tronqueira, S.Miguel/Açores, Portugal.






ACIDENTE GEOLÓGICO

A Serra da Tronqueira é uma elevação Portuguesa localizada no concelho do Nordeste da ilha de S.Miguel, nos Açores. Este acidente geológico tem o seu ponto mais elevado a 906 metros de altitude acima do nível do mar. É nos contrafortes desta serra e no Pico da Vara que se encontra o Priolo, passiforme em vias de extinção, com a designação científica de Pyrrhula murina. Este pássaro que até aos príncipios de 2007 apenas podia ser observado nas emidiações desta serra e no já mencionado Pico da Vara. Em 2008, este magnífico pássaro foi observado a menores altitudes, graças aos cuidados de protecção que lhe têm sido aplicados. Aqui localiza-se também o Centro Ambiental do Priolo, situado na localidade da Pedreira.
Nas suas imediações localiza-se o Pico Bartolomeu, e na extremidade oposta o Outeiro Alto. Nas encostas desta serra, nasce a Ribeira de Tosquiada e alguns afluentes da Ribeira do Guilherme ou Ribeira dos Moinhos, como também é conhecida.

Fotografias Zito Colaço

1 de fevereiro de 2010

A Beringela


OS HOMENS FAZEM MÁ VIZINHANÇA

Os problemas da convivência entre determinadas espécies animais e comunidades humanas é tão antiga como a própria humanidade. Homem e Besta sempre se cruzaram através de milénios, ora sob "tratados" de coexistência pacífica, ora mediante guerra declarada. A banalidade de tais ocorrências fez com que a História Universal as tivesse ignorado por completo. Considerou disputas entre humanos, fossem elas territoriais, raciais ou, mais recentemente, económicas, nascimentos e mortes de tantas e tantas civilizações mas, da má vizinhança entre o homem e o animal selvagem, tratou a tradição oral. No imaginário de qualquer povo que habite, há muito, determinado território, espraiam-se as estórias contadas de geração em geração e que nos foram ensinando, de forma inegável, a lidar com as espécies. O mesmo se aplica aos animais que, tantos milénios depois, sabem que deverão, a todo o custo, evitar-nos. Temem-nos. E têm boas razões para isso. O que faz com que não seja muito difícil de concluir que, hoje em dia, os reencontros sejam, o mais das vezes, mau sinal. O Homem invade, cada vez mais, o território da bicharada e estes não têm outro remédio que não mostrarem-se, ou às suas acções. Que, aos nossos olhos, são sempre más. Quando, em África, uma manada de elefantes destrói o campo de milho de uma aldeia ou, no Gerês, uma alcateia dizima um quarto do rebanho do pastor, a reacção desencadeada é practicamente idêntica. O instinto de sobrevivência próprio dos animais passa a aplicar-se ao homem que, salvo uma educação ambiental em contrário, trata de fazer justiça pelas próprias mãos. Mas isto é uma questão complexa cuja a análise não deverá ser feita apenas de um prisma ambientalista quando estão, também, em causa variáveis sociais.

Quando, porém, alguém mata, à paulada, ou ao pontapé, um animal tão inofensivo como a lontra, é apenas tacanhês, estupidez, idiotice e imbecilidade. Obra de um qualquer labrêgo, porque estamos a falar do sul e há que fazermo-nos compreender. A pulga dá comichão, a mosca é incomodativa durante uma sardinhada, o pardal empobrece a sementeira, a coruja é bicho de mau-agoiro, o gato é incomodativo quando está com o cio mas...uma lontra? Por amor da Santa do altar de qualquer igreja de Santo André, a lontra não espalha doenças, não assalta galinheiros na calada da noite, nem sequer se deixa ver, quanto mais morder-nos os tornozelos? Ainda por cima, e porque a falta de inteligência traz consigo, geralmente, consequências, a lontra era a Beringela, noticiada em Portugal inteiro por tratar-se da primeira da sua espécie a ser recuperada pelo Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Santo André, (foi encontrada no interior de uma caixa-armadilha numa reserva de caça em Outubro último) e libertada, próximo do mesmo local, após duas semanas de recuperação. Como tal, e para que se pudesse monitorizar não só a sua readaptação ao meio mas também os seus hábitos alimentares, foi-lhe colocada uma mochila com um emissor GPS. Foi esse que levou à série de insólitos que se seguiram. À estranheza causada pelo facto do sinal ser, há vários dias, emitido sempre do mesmo local, correspondente a uma povoação próxima da localização da libertação do animal, a equipa do CRASSA fez-se ao caminho. Para concluir que o lugar exacto era, afinal, um contentor de lixo.
Este cenário só poderia indicar que, afinal, Beringela perdera a mochila, alguém a encontrara e, naturalmente, ignorando do que se tratava, destinou-lhe um fim mais óbvio. E sim, o equipamento emissor estava no interior do contentor mas, pasme-se, a Beringela também, envolvida em sacos plásticos. A necrópsia, levada a cabo pela Universidade de Évora, provou, mais que a evidente presença de sangue na pele, pêlo da cabeça e fossas nasais, também a fractura do osso frontal e ambos os parietais, a presença de extenso hematoma nessas mesmas áreas da caixa craniana e, claro, consequente destruição de massa encefálica. A presença de lagostins e alguns peixes no estômago indicavam que se estava a adaptar bem ao meio. A sua morte indica que há gente que, bem adaptada ao meio, tem a barriga cheia da mais negra peste dos homens, a ignorância.

Conclusão Bilma nº 1 - Não se julgue que os sintomas de terceiro-mundismo têm apenas a ver com factores económicos.

Conclusão Bilma nº 2 - Não se julgue que apenas os animais agem como tal.


Fotografia Quercus
Texto Nuno Miguel Dias