31 de agosto de 2010

Parque Nacional da Peneda-Gerês, Portugal.

PARQUE NACIONAL da PENEDA-GERÊS

Criado em 1971, é a mais antiga área protegida portuguesa e a única classificada como Parque Nacional pela União Internacional de Conservação da Natureza. Abrange 72 000 hectares, dos concelhos de Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras do Bouro e Montalegre. Tem a forma de uma ferradura com a boca virada para Espanha, fazendo fronteira durante 100 km (do lado galego existe o Parque do Xerez).

O extremo noroeste corresponde ao planalto de Castro Laboreiro, na serra da Peneda, no Alto Minho. A concavidade central corresponde à serra Amarela (Lindoso) e ao vale do rio Homem (com a albufeira de Vilarinho das Furnas e a fronteira da Portela do Homem). Imediatamente a sul situa-se o coração do parque e a sua zona mais conhecida: o vale do rio Gerês, as Caldas do Gerês e a albufeira da Caniçada.

Na ponta contrária (sueste) desenvolve-se o planalto da Mourela, onde se situam as aldeias comunitárias de Pitões das Júnias e Tourém, já em Trás-os-Montes. O parque é atravessado por três grandes rios: Lima (desde a barragem do Lindoso até Entre-Ambos-os-Rios); uma dezena de quilómetros a sul corre o Homem, represado em Vilarinho das Furnas por uma barragem que implicou a submersão da aldeia homónima; finalmente, fazendo a fronteira sul do parque durante meia centena de quilómetros, o Cávado (com o qual o Homem conflui a jusante), cortado por três barragens: Paradela, Venda Nova e Caniçada.

A História está presente, com os dólmenes do planalto de Castro Laboreiro ou da serra do Soajo (Portela do Mezio) ou com um troço da via romana Braga-Astorga (na Mata da Albergaria). Da época medieval registam-se castelos (Castro Laboreiro e Lindoso) ou abadias cistercienses como Santa Maria das Júnias. Mais recente, o santuário setecentista da Senhora da Peneda. Fruto das condições adversas, desenvolveram-se tradições comunitárias. Nas regiões montanhosas do Soajo e da Peneda de Verão, os aldeões abandonam as povoações dos vales (inverneiras) e deslocam-se com o gado para as brandas, situadas a cotas mais altas.

Para ajudar os pastores desenvolveu-se o cão de Castro Laboreiro. O gado barrosão, adaptado aos rigores do clima, produzia carne e ajudava nos trabalhos agrícolas. A "revolução do milho", no século XVII, trouxe os espigueiros, construções em pedra e madeira onde a colheita era armazenada. Podem ser vistos nas aldeias do Soajo e Lindoso, formando campos de dezenas de exemplares. As paisagens de altitude dominam a serra do Gerês (miradouro da Pedra Bela, sobranceiro às Caldas). Há vales glaciários como aquele por onde corre a ribeira da Peneda. Encontram-se matas pujantes como as dos vidoeiros de Lamas de Mouro, dos carvalhos na Portela do Mezio ou a rara e sensível Mata da Albergaria.

Há quedas de água, como as do rio Arado (perto da aldeia de Ermida). Desaparecidos o lobo e a cabra selvagem, subsistem da fauna original da zona o garrano (cavalo selvagem de pequeno porte) e o corço, bem como o javali, a raposa, a lontra, para além de diversas espécies de aves de rapina. Assim se justifica que em 2007 tenha aderirido à rede das melhores áreas naturais da Europa, depois de ter sido aceite a sua candidatura ao sistema de certificação PAN Park´s.

























Fotografias Zito Colaço

13 de agosto de 2010

AS ARRIBAS. Praia da Falésia, Algarve, Portugal.











AS ARRIBAS

Tão importantes quanto as dunas, as arribas são outra forma de relevo associado às zonas costeiras, moldadas pelo mar.

Nas costas rochosas em erosão, chamam-se arribas às vertentes que são permanentemente ou periodicamente expostas à acção do mar.

As arribas são formas naturais em constante destruição, cujos detritos, após remobilização pela acção das ondas, podem fornecer areias que irão ser acumuladas nas praias.

Morfologia das arribas:

- Base da arriba: ponto de encontro da arriba com o nível de base, onde, por vezes, se acumula praia
- Crista da arriba: ponto de charneira, de alteração brusca no terreno
- Topo da arriba: superfície aplanada, com continuidade para o interior
- Face da arriba: superfície inclinada da arriba, exposta ao mar
- Cone de dejecção ou de detritos: material solto que resulta de desmoronamentos

Evolução das arribas

As arribas estão em pemanente evolução, de que resulta o recuo generalizado do litoral por elas definido. Este processo erosivo natural implica a perda de território a taxas que oscilam entre os 2mm/ano a 2m/ano.
A urbanização de zonas contidas dentro das faixas de risco das arribas contribui para o aparecimento de situações limite, com consequências irreversíveis. A deficiente planificação da ocupação do litoral, conjugada com a crescente utilização destas áreas para actividades de lazer, contribui muitas vezes para a aceleração da instabilidade das arribas.

A arriba é, por definição, uma forma em erosão. A evolução das arribas processa-se mediante sequência de desmoronamentos muito rápidos, geralmente concentrados durante o Inverno, quando a acção dos principais agentes erosivos responsáveis pelo desencadeamento das situações de ruptura (ondulação e precipitação) atinge maior intensidade.
Após qualquer desmoronamento, a arriba mantém-se sempre como elemento geomorfológico. A salvaguarda deste património natural implica a manutenção da sua evolução natural, ou seja, da erosão.
Os desmoronamentos são muito variáveis no tempo e no espaço, dependendo de inúmeros factores, como a intensidade e frequência da acção de agentes climáticos, a fracturação e o tipo de rocha em que a arriba é talhada, a ocupação humana, a presença de vegetação, a sismicidade, etc.

As arribas talhadas em materiais pouco consolidados (areias e argilas) tendem a favorecer a formação der fendas paralelas à crista que, sob acção dos agentes climáticos, aumentam até se atingirem condições de ruptura. Nessa altura, ocorre o desmoronamento e acumulação de detritos na base da arriba.

Nas arribas talhadas em rocha (por exemplo, calcários), a acção mecânica das ondas, em conjunto com o efeito abrasivo dos sedimentos em suspensão, favorecem o desgaste da base da arriba e a formação de sapas. Com o tempo, estas cavidades aprofundam-se, até ao limite da ruptura, verificando-se então a queda do bloco. O cone de detritos, formado em consequência da ocorrência do desmoronamento, fornece protecção temporária à base da arriba, sendo removido a longo prazo pela accção das ondas.

Risco associado à dinâmica das arribas

A geodinâmica das arribas determina a existência de riscos para os seus utentes, quer na base, quer no topo.
Conhecendo a geodinâmica das arribas, é possível delimitar zonas de risco, correspondendo às zonas sob influência dos materiais envolvidos num provável desmoronamento:
- Zonas de risco para terra: corresponde à zona compreendida entre a crista da arriba e uma linha paralela à mesma, cuja largura equivale à largura máxima da ruptura. - Zonas de risco para o mar: corresponde à zona passível de ser ocupada pelos resíduos do desmoronamento da arriba e que equivale a uma distância de 1 a 1.5 vezes a altura da arriba.

A circulação automóvel constitui um elemento destabilizador das arribas, na medida em que aumenta a carga sobre os terrenos intrinsecamente instáveis e produz vibração.
Esta prática constitui um factor de risco muito considerável não só para os condutores dos veículos, mas sobretudo para os utentes das praias existentes na base das arribas.

Valores naturais

Os relevos das arribas, talhados pela erosão, dão origem a habitats peculiares e albergam flora e fauna de elevado valor ambiental.
Plantas como a salgadeira ou o funcho do mar, que colonizam vertentes expostas, estão bem adaptadas ao substrato rochoso e aos ventos marítimos carregados de sal.
As paredes rochosas de difícil acesso para predadores são eleitas como local de nidificação por diversas espécies de aves. É o caso do andorinhão real, da gaivota argêntea e de aves de rapina como o francelho e o falcão peregrino (espécie actualmente ameaçada).


Fotografias Zito Colaço