13 de agosto de 2010



AS ARRIBAS

Tão importantes quanto as dunas, as arribas são outra forma de relevo associado às zonas costeiras, moldadas pelo mar.

Nas costas rochosas em erosão, chamam-se arribas às vertentes que são permanentemente ou periodicamente expostas à acção do mar.

As arribas são formas naturais em constante destruição, cujos detritos, após remobilização pela acção das ondas, podem fornecer areias que irão ser acumuladas nas praias.

Morfologia das arribas:

- Base da arriba: ponto de encontro da arriba com o nível de base, onde, por vezes, se acumula praia
- Crista da arriba: ponto de charneira, de alteração brusca no terreno
- Topo da arriba: superfície aplanada, com continuidade para o interior
- Face da arriba: superfície inclinada da arriba, exposta ao mar
- Cone de dejecção ou de detritos: material solto que resulta de desmoronamentos

Evolução das arribas

As arribas estão em pemanente evolução, de que resulta o recuo generalizado do litoral por elas definido. Este processo erosivo natural implica a perda de território a taxas que oscilam entre os 2mm/ano a 2m/ano.
A urbanização de zonas contidas dentro das faixas de risco das arribas contribui para o aparecimento de situações limite, com consequências irreversíveis. A deficiente planificação da ocupação do litoral, conjugada com a crescente utilização destas áreas para actividades de lazer, contribui muitas vezes para a aceleração da instabilidade das arribas.

A arriba é, por definição, uma forma em erosão. A evolução das arribas processa-se mediante sequência de desmoronamentos muito rápidos, geralmente concentrados durante o Inverno, quando a acção dos principais agentes erosivos responsáveis pelo desencadeamento das situações de ruptura (ondulação e precipitação) atinge maior intensidade.
Após qualquer desmoronamento, a arriba mantém-se sempre como elemento geomorfológico. A salvaguarda deste património natural implica a manutenção da sua evolução natural, ou seja, da erosão.
Os desmoronamentos são muito variáveis no tempo e no espaço, dependendo de inúmeros factores, como a intensidade e frequência da acção de agentes climáticos, a fracturação e o tipo de rocha em que a arriba é talhada, a ocupação humana, a presença de vegetação, a sismicidade, etc.

As arribas talhadas em materiais pouco consolidados (areias e argilas) tendem a favorecer a formação der fendas paralelas à crista que, sob acção dos agentes climáticos, aumentam até se atingirem condições de ruptura. Nessa altura, ocorre o desmoronamento e acumulação de detritos na base da arriba.

Nas arribas talhadas em rocha (por exemplo, calcários), a acção mecânica das ondas, em conjunto com o efeito abrasivo dos sedimentos em suspensão, favorecem o desgaste da base da arriba e a formação de sapas. Com o tempo, estas cavidades aprofundam-se, até ao limite da ruptura, verificando-se então a queda do bloco. O cone de detritos, formado em consequência da ocorrência do desmoronamento, fornece protecção temporária à base da arriba, sendo removido a longo prazo pela accção das ondas.

Risco associado à dinâmica das arribas

A geodinâmica das arribas determina a existência de riscos para os seus utentes, quer na base, quer no topo.
Conhecendo a geodinâmica das arribas, é possível delimitar zonas de risco, correspondendo às zonas sob influência dos materiais envolvidos num provável desmoronamento:
- Zonas de risco para terra: corresponde à zona compreendida entre a crista da arriba e uma linha paralela à mesma, cuja largura equivale à largura máxima da ruptura. - Zonas de risco para o mar: corresponde à zona passível de ser ocupada pelos resíduos do desmoronamento da arriba e que equivale a uma distância de 1 a 1.5 vezes a altura da arriba.

A circulação automóvel constitui um elemento destabilizador das arribas, na medida em que aumenta a carga sobre os terrenos intrinsecamente instáveis e produz vibração.
Esta prática constitui um factor de risco muito considerável não só para os condutores dos veículos, mas sobretudo para os utentes das praias existentes na base das arribas.

Valores naturais

Os relevos das arribas, talhados pela erosão, dão origem a habitats peculiares e albergam flora e fauna de elevado valor ambiental.
Plantas como a salgadeira ou o funcho do mar, que colonizam vertentes expostas, estão bem adaptadas ao substrato rochoso e aos ventos marítimos carregados de sal.
As paredes rochosas de difícil acesso para predadores são eleitas como local de nidificação por diversas espécies de aves. É o caso do andorinhão real, da gaivota argêntea e de aves de rapina como o francelho e o falcão peregrino (espécie actualmente ameaçada).


Fotografias Zito Colaço

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