1 de março de 2010





FOI EM ÁFRICA QUE TUDO COMEÇOU

Esta é uma frase que hoje em dia é tida quase como um cânone paradigmático tanto em Arqueologia como em Antropologia.

É de história africana que se vai falar, quando a zona norte do grande continente era ocupada por vasta savana, com rios que a alimentavam e a tornavam possuidora de vasta fauna.

Populações de caçadores-recolectores percorreram na savana, deixando na pedra testemunho dessa passagem, assim como dos animais que ai existiam. As épocas vão passando e o pastoreio de bovídeos e ovicaprídeos acrescenta-se uma parca agricultura de gramíneas em sítios localizados o que permite acrescentar um pouco mais de diversidade à dieta alimentar destes povos nómadas e transumantes.

Também eles irão deixar o seu testemunho na pedra e assim perpetuar a sua memória, como se pode observar nas gravuras rupestres de Gleb Terzug, no Tassili N`Ajjer, Fezzan, Adrar ou em Garer El Djenoun e especialmente em Rekeyeiz.

Esta é a traços gerais a génese da Pré-História do Sahara, contudo seria de grande imprudência generalizar estes factos a todo o território, das costas marroquinas até à fronteira Líbio-egípcia. Existiram claro, derivações regionais e outras especificações que irão permitir o surgimento de características próprias permitindo assim, o individualizar das regiões.

O Sahara Ocidental não foi uma exepção nesta época. Também aqui, existiu em tempos fauna variada, desde leões, girafas, rinocerontes, hipópotamos e crocodilos nos seus rios. Assim como antílopes, gazelas e órix. Este testemunho é-nos deixado pelas gravuras de Slugilla, podendo estas ser enquadradas no estilo bovideano de caracterização da arte rupestre sahariana.

A figura humana também é representada, em vários estilos e ocupações.

As condições climatéricas mudam, a paisagem acompanha essas mudanças e gradualmente, vai surgindo o deserto sahariano que hoje se conhece. Assim também as populações humanas aí presentes tiveram que se adaptar, tendo para isso, por volta de 3.000 A.C., domesticado um animal que tem revelado um aliado preciosissímo para a sobrevivência no deserto, o dromedário.

No entanto, a imagem romântica de mares de dunas sem fim, não podia estar mais distante. É certo que estas constituem uma parte apreciável do deserto. Mas este, não se esgota neste aspecto, pelo contrário. Extensas planícies de calhaus interrompidas por altiplanos e formações rochosas de granito negro, rasgam a continuidade da paisagem, como se observa em El Tiris.

A evolução é contínua, assim como a progressão humana. Novos grupos humanos aparecem no antigo território de outros e tudo isso contribui para a formação e individualização de um povo.

Também assim foi com os Saharauis. Se por um lado, os génes das antigas tribos berberes, praticantes de um nomandismo, constituem grande parte da herança genética, esta também tem em si um não menos importante legado árabe(Séc.VIII) e africano.

Mas um povo, não é só evolução histórica e contacto com os outros. É toda a envolvência com a paisagem onde se insere, o modo como esta o modela e faz com que se adapte a ela. Criando uma cultura única e própria.

Certo que, uma cultura, nunca existe num plano singular, tem sempre pontos de contacto mais alargados dentro de grupos culturais mais vastos e abrangentes. Mas isso, só serve para a fortalecer e dar-lhe o seu carácter próprio.

No entanto, como atrás foi referido, existe sempre a caracterização específica, seja devido a modulações regionais, seja por evolução dentro de um grupo social. O que se pretender sublinhar, é se os Saharauis podem ser enquadrados num grupo específico de populações saharianas, as individualizações fazem deles um povo único, cuja cultura merece todo o respeito e determinação.

Texto Carlos Didelet Vasquez
Fotografias Zito colaço

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